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2010

Maria Luisa Soux, La Paz en su ausencia. El mundo femenino y familiar en La Paz durante el proceso de Independencia, 1780-1825, La Paz, Gobierno Municipal de La Paz, 2008, 198 p.

Carlos Augusto Bastos

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La Paz
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Texte intégral

1Publicado no final do ano de 2008, o livro La Paz en su Ausencia, da historiadora boliviana Maria Luisa Soux, foi fruto das pesquisas por ela realizadas durante seu ano sabático na Universidad Mayor de San Andrés, de La Paz. Na obra, Soux aborda o cotidiano das mulheres da elite paceña entre 1780 a 1825, período que a autora caracteriza como de crise do sistema colonial e que abarca desde os levantamentos indígenas de Tupac Katari até a fundação da República boliviana. Ao estudar a cidade de La Paz durante esses anos, a autora volta-se para a análise das experiências femininas, analisando a inserção das mulheres em questões como a formação das elites locais, suas estratégias de constituição de redes familiares, a construção de seus patrimônios e as modificações realizadas pelos grupos de elite para enfrentar os turbulentos anos de conflitos políticos e militares.

2Maria Luisa Soux utilizou-se de fontes judiciais, inventários e principalmente de correspondências privadas produzidas por mulheres das elites de La Paz. Valendo-se dessa documentação, Soux privilegia a análise de alguns casos, com destaque para o de Doña Francisca Calderón, viúva de Don Tadeo Díez de Medina e uma das mais importantes representantes da elite local. Tradicionalmente, destaca Soux, as mulheres exerciam um papel importante para a formação das elites, tendo em vista a importância do matrimônio como mecanismo de ascensão social e manutenção do status econômico e político de grupos privilegiados, tanto nas sociedades européias e como no mundo colonial. No entanto, as mobilizações militares dos homens e a morte de muitos deles durante os conflitos da independência possibilitaram que as mulheres, mediante suas relações pessoais e familiares, assumissem um papel mais destacado nos setores elitistas de La Paz, ocorrendo uma espécie de “feminização” da elite paceña. Isso não significou o rompimento com o sistema patriarcal vigente, mas sim um momento de crise daquela sociedade no qual as mulheres paceñas, mediante suas estratégias, conquistaram um lugar social de maior autonomia nos grupos dominantes.

3O trabalho divide-se em sete capítulos. No primeiro capítulo, Soux analisa as bases para a formação das famílias de elite no mundo colonial, enfatizando como a construção de redes sociais possibilitava a sustentação dos poderes econômico e político dos segmentos dominantes. O matrimônio era uma estratégia privilegiada para a formação das redes sociais, permitindo, na América colonial, a permanente incorporação de novos membros nas elites. No capítulo dois, Soux discute a situação da cidade de La Paz durante o período delimitado, e a inserção das elites paceñas naquela sociedade. La Paz vivenciou na segunda metade do século XVIII um crescimento do mercado local, enriquecendo os setores ligados à plantação e comercialização da folha de coca. Esses grupos, além de se dedicarem a atividades econômicas semelhantes, estavam ligados por relações de parentesco, bem como pelo compartilhamento da memória histórica do enfrentamento das sublevações indígenas da década de 1780.

4No terceiro capítulo, a autora situa quais as famílias mais importantes da sociedade paceña entre fins do século XVIII e princípios do XIX. Nesse ponto do trabalho, Soux realiza estudo de casos, reconstituindo brevemente as relações de parentesco e as alianças familiares que possibilitaram a constituição da elite local. Tratava-se de uma elite identificada internamente não por sua origem, mas pelas atividades produtivas às quais se dedicavam seus membros e pelas relações familiares mantidas entre eles. As estratégias familiares foram importantíssimas para o estabelecimento de grupos familiares poderosos em La Paz, como os Díez de Medina-Mara-Ulloa, Díez de Medina-Calderón, Ballivian-Segurola, entre outros.

5O capítulo quatro volta-se para o estudo das atividades econômicas e composição do patrimônio das famílias da elite de La Paz. A terra exercia uma função importante no perfil patrimonial da elite paceña, seguida pela posse de outros bens como casas urbanas, escravos e jóias. Analisando inventários de mulheres, Soux aponta para a predominância da reprodução de seus bens através da renda. Esse fato indica, para a autora, a preponderância dos valores patriarcais de uma sociedade que esperava que a mulher não exercesse atividades de trabalho no espaço público, visto como eminentemente masculino. No capítulo seguinte, Soux trata das diferentes situações das mulheres durante os turbulentos anos do processo de independência, procurando identificar como mulheres casadas, separadas e viúvas vivenciaram as guerras e as agruras daqueles anos.

6No sexto capítulo, a autora volta-se para o caráter feminino do espaço privado da elite paceña, enfocando as relações mantidas entre mulheres. Poderiam ser relações familiares, econômicas, de dependência ou de solidariedade, tratando-se, em todo caso, de estratégias de sobrevivência e de manutenção do status por parte das mulheres das elites. Quanto ao último capítulo do livro, Soux parte de uma história específica, a do triângulo amoroso entre Clemente Díez de Medina, Francisca Xavier Barreda e Vicenta Juairisti Eguino, para entender as diferentes possibilidades e maneiras como as mulheres da elite local enfrentaram os dissabores da guerra e a ausência dos homens em seu cotidiano.

7O livro de Maria Luisa Soux, antes de ser um estudo exaustivo sobre o tema, aponta para novas possibilidades de abordagem sobre a história dos processos de independência e das elites americanas do período. As independências foram vivenciadas de diferentes maneiras não apenas segundo o tempo e o lugar, mas também conforme o grupo social e o gênero dos sujeitos. E, no que diz respeito às mulheres das elites paceñas, suas ações tentaram dar prosseguimento à vida cotidiana afetada pelas turbulências do período e pela ausência dos homens, arrastados pelos conflitos daqueles anos.

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Pour citer cet article

Référence électronique

Carlos Augusto Bastos, « Maria Luisa Soux, La Paz en su ausencia. El mundo femenino y familiar en La Paz durante el proceso de Independencia, 1780-1825, La Paz, Gobierno Municipal de La Paz, 2008, 198 p. »Nuevo Mundo Mundos Nuevos [En ligne], Comptes rendus et essais historiographiques, mis en ligne le 25 janvier 2010, consulté le 19 avril 2024. URL : http://journals.openedition.org/nuevomundo/58707 ; DOI : https://doi.org/10.4000/nuevomundo.58707

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